quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Eu sou Charlie. Nós somos todos Charlie

“Je suis Charlie. Nous sommes tous Charlie.” 

Foram doze minutos de silêncio prestados aos doze mortos...  O local escolhido foi a mais famosa catedral parisiense e como se até o céu chorasse a chuva iniciou segundos antes das tradicionais doze badaladas do meio dia. E se intensificou enquanto pessoas permaneciam paradas, em seus silêncios tristes. Para alguns o silêncio era quebrado pelos sinos de Notre-Dame, para mim o silêncio foi reforçado pelo ecoar dos centenários sinos que já presenciaram tanta intolerância de nosso mundo.
E foi assim por doze minutos, os sinos praticamente constantes, as águas batendo em guarda-chuvas, em rostos descobertos e escorrendo por entre poças já formadas.  Não, não eram só franceses e sim uma multidão de diversas nações prestando homenagem aos mortos pela barbaridade e demonstrando a necessidade de liberdade de expressão. 

Por vezes, o vento soprava e virava do avesso os guarda-chuvas, fazendo com que todos experimentassem um pouco do choro gelado dos céus. Como não poderia deixar de ser, tudo acompanhado pela mídia, com suas grandes lentes e satélites de transmissão ao vivo. Ao lado e em frente à catedral dois prédios oficiais com as bandeiras francesas a meio mastro davam o ar oficial ao maior ataque terrorista que o país já sofreu.

Essa foi uma pequena e pacífica demonstração de respeito aos assassinados no dia 6 de janeiro, muitas outras aconteceram ao mesmo tempo em vários outros lugares de Paris ao meio dia de hoje. E outras já aconteceram e ainda vão acontecer por um bom tempo, penso eu, pelo menos várias outras manifestações estão marcadas até o final de semana.

Também me senti muito triste e fiquei raciocinando no significado disso tudo...

Não sou grande fã de piadas, não consigo me divertir com alguns conteúdos que julgo ofensivo, mas leio charges sim, afinal encontro muitas inteligentes e conheço vários chargistas que me divertem - só para ter um posicionamento claro. Todavia, essa não é a questão... a questão é justamente a liberdade de expressão e como isso pode ser encarado em pleno século XXI. 

Ninguém tem o direito de tirar a vida de qualquer pessoa, por motivo algum, imagine por serem cartunistas ou membros de uma revista humorística. Não me venham com a conversa de honra ferida como justificativa. Textos, frases, desenhos fazem parte de um mundo que pretende ser democrático, mesmo que não gostemos deles. Será que os profissionais da comunicação serão os novos alvos? Uma represália para cala-los?

E a violência que choca todo o mundo agora ainda tem consequências bem mais sérias do que podemos imaginar. Grupos islâmicos não fundamentalistas, pessoas com origem ou ascendência do oriente médio ou norte a África serão generalizados e com toda certeza passarão por situações constrangedoras de preconceito, ou ainda perseguição. Isso enquanto grupos xenofobistas e de extrema-direita se fortalecerão por discursos de segurança nacional, controle e repressão em nome de um “bem maior” que ninguém sabe qual é, mas a história, que sempre deve estar viva em nossa memória, nos demonstra exatamente o que isso pode fazer... 

“Je suis Charlie. Nous sommes tous Charlie.” Pela Liberdade de Expressão, pela Vida e pela Paz. 

Paris, 08 de janeiro de 2015.

Samantha Lodi (Membro da Academia Guaçuana de Letras).

(Texto publicado n’A Gazeta Vargengrandense, em 10 de janeiro de 2015)

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