Num universo sem fim...
Ele só, ela sozinha,
Entre os dois somente o sim.
Dum encontro tão fortuito
"Eu quero, eu também quero"
E na dança se abraçaram,
No compasso de um bolero...
"Besa me, besa me mucho"...
Os passos se acertaram...
Ao pé do ouvido o sussurro
E não mais se separaram...
Ah! O delírio do amor!
Beijos, abraços, suspiros!
No rosto aquele calor...
Sede de sangue, vampiros...
E se mordem em gestos lúbricos...
Ele nela, ela nele...
Deixando manchas no corpo
E marcas por toda a pele...
Ele corre pro trabalho,
Ela cuida dos dois filhos.
E a família segue em frente
Como o trem por sobre os trilhos...
Mas há sempre um acidente:
O trem também descarrilha.
Porém, se o trem tem conserto,
Não tem conserto a família...
Do casal nasceram quatro
Que a mãe gerou no seu seio,
Mas Deus levou os do meio,
Sem dar tempo pro retrato...
Apesar disso, beleza!
Mas a família é um gueto
Fechado como um soneto
Em que não entra a destreza...
Quem não entra fica fora...
E de fora o mal sobeja...
Pra desmanchar a família,
O vilão tem de bandeja...
Tem de sobra o desgraçado,
Pessoa feita de peste,
Podre por dentro e por fora,
O leproso cafajeste...
E o demônio que não dorme
Fica aceso e acende a tocha...
Joga pro lixo a família
(Flor do ódio desabrocha)...
Hoje ele só, ela só...
Muito pior que o começo,
Pois agora metem dó,
A vida foi um tropeço...
O encontro, desencontro
Gera inimigos mortais...
Quem dera fosse alegria
A constante dos casais...
Mas não. Sobra tristeza,
Depressão, falta de rumo,
Tal como parede torta
Que se ergueu fora do prumo...
Pior, porém, se os dois
Ficassem juntos sozinhos
Azedos feijão com arroz,
Escândalos para os vizinhos...
João Victor Rossi (Membro da Academia Guaçuana de Letras)
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