sexta-feira, 20 de abril de 2018

O vaso chinês



Conta uma antiga lenda chinesa que um velho monge, pressentindo a própria morte, decidiu eleger entre os seus discípulos aquele que seria o seu sucessor. Por ser um homem sábio e justo não poderia deixar que a predileção por algum de seus aprendizes influenciasse a sua escolha. Na verdade, embora a palavra final fosse sua, a escolha seria dos próprios monges, por isso, daria a eles uma tarefa difícil e a escolha recairia sobre aquele que conseguisse cumpri-la.

Numa manhã amena, quando soprava uma suave brisa no sopé da montanha onde se localizava o monastério, o velho mestre reuniu os dez aprendizes mais dedicados, os quais treinava havia anos, e lhes comunicou a sua decisão de escolher um sucessor por prever sua breve partida. Os jovens se entreolharam com tristeza, pois, embora soubessem que o mestre tinha idade bastante para partir, não desejavam perder sua companhia e deixar de beber dos seus ensinamentos. Ele os instruía desde a infância e era um verdadeiro pai para eles. 

O mestre pediu que os jovens o acompanhassem até uma sala especial na qual nenhum deles jamais havia entrado e todos se surpreenderam ao notar que a sala secreta, a respeito da qual teciam diversas conjecturas, estava completamente vazia. Logo depois que adentraram o recinto, o velho mestre deu uma orientação a alguns serviçais que estavam perto e eles carregaram para dentro da sala quatro bancos de madeira que foram encostados em cada uma das quatro paredes. 

O sábio fez sinal para que se sentassem e disse que iria lhes apresentar um problema, que o seu sucessor seria aquele que primeiro o resolvesse e que teriam até o pôr-do-sol para fazer isso. Se nenhum deles conseguisse encontrar a solução, seriam mandados de volta para as suas casas e o mosteiro seria fechado. A um sinal do mestre entraram dois homens fortes carregando um imenso, antigo e valioso vaso que foi colocado no centro da sala. Olhando para os jovens apreensivos ele disse apenas: “Resolvam o problema” e saiu  deixando a porta aberta.

Os candidatos à sucessão não tiveram chance de fazer qual quer pergunta e concluíram que o precioso objeto ocultava o problema. Os mais ágeis logo viraram o vaso para procurar alguma pista em seu interior, mas ele estava vazio e não havia nenhuma inscrição dentro dele. Então o viraram para olhar embaixo, mas a porcelana era tão branca e limpa como a do lado de dentro. A superfície externa do vaso era decorada, havia uma grande quantidade de traços delicados formando belíssimos desenhos e neles se fixou a atenção dos jovens durante horas e horas, sem chegarem a nenhum resultado. O dia já ia a cabo, eles estavam cansados, com fome e desanimados. O sol já principiava o seu declínio, tingindo o céu de matizes delicados de rosa, amarelo e vermelho.

Os discípulos cochichavam entre si, viravam e reviravam o vaso, mudavam de posição diversas vezes para vê-lo sob ângulos diferentes até que um deles se levantou de um salto e meteu o pé no vaso quebrando-o em vários pedaços. Os outros, aturdidos com aquela atitude, se lançaram sobre ele gritando e acusando-o de ter-lhes tirado a chance de resolverem o problema e terem um sucessor, mas, antes que o ferissem, ouviram novamente a voz do mestre que, parado à porta, ordenou que se afastassem do rapaz e, aproximando-se dele, olhou-o bem nos olhos, sorriu e disse: “Eis o meu sucessor!”. Os outros protestaram, dizendo que ele destruíra o vaso. O velho sábio sorriu novamente e lhes disse que aquele jovem intrépido, ao destruir o vaso, tinha resolvido o problema porque o vaso era o problema e explicou: “Por mais bonito, precioso e raro que um problema pareça, ele continua sendo um problema e requer uma solução. Enquanto vocês tocaram o vaso com cuidado, o alisaram, o acariciaram, o esquadrinharam tentando encontrar uma resposta mágica, esse discípulo fez a única coisa que poderia ser feita: identificou o problema, encarou-o e o resolveu. Se vocês se apaixonam pelo problema, vão tratá-lo com muito tato, vão ser delicados com ele, vão tentar decifrá-lo e, não conseguindo, vão se curvar diante dele e carregá-lo com vocês. Problemas existem para serem resolvidos.”.

Eu conheço essa história há muitos anos e aprecio o seu ensinamento. Muitas vezes nos apegamos aos problemas, damos a eles mais poder do que eles têm e deixamos que eles dominem a nossa vida, isso quando não acabamos tendo um caso de amor com eles e carregando-os nas costas, mostrando às outras pessoas o quanto somos infelizes, o quanto sofremos e como são pesados, difíceis e insolúveis os problemas que carregamos. Esse é um comportamento nocivo e perigoso. Não devemos fugir dos problemas e nem procurá-los, mas, quando eles se apresentam – e eles sempre se apresentam – não devemos nos apegar a eles e carregá-los. Nossa missão é resolvê-los, mesmo porque carregar um grande, delicado e precioso vaso de porcelana, ainda que ele seja lindo, é uma tarefa difícil demais e que nos afasta de nossa missão de nos melhorarmos sempre e contribuirmos para a construção de um mundo melhor. Para isso estamos aqui.

Isa Oliveira (Membro da Academia Guaçuana de Letras)

quinta-feira, 12 de abril de 2018

SOBREVIVENTE
Sou um sobrevivente
e vou contar por que:
Sou um brasileiro sobrevivente,
porque sobrevivi a quatro governos do PT.
Me roubaram tudo,
me deixaram sem nada,
fiquei sozinho na estrada,
fiquei sozinho na rua
com as costas nuas,
com os meus pés no chão,
sem roupas, sem água, sem pão.
Sou um sobrevivente,
assisti o meu País sendo roubado,
assisti a Petrobras sendo estuprada,
vi nosso dinheiro indo pro exterior
para beneficiar ditaduras
numa negociação impura,
numa ação que se desatina,
muitos políticos mergulhados na propina,
isto eu vi de fato,
mas surgiu a Lava Jato
pequena como criança
que encheu de esperança
os brasileiros de bem.
Olhei e não vi ninguém,
estava sozinho perdido,
fiquei assim encolhido
e tapei o meu ouvido
pra não ouvir o estampido
de uma arma qualquer,
vi criança, homem e mulher
perder emprego e dinheiro,
vi a inflação chegando,
o País se desmoronando,
nosso PIB foi a zero
por causa da roubalheira
vi nossa Nação inteira
por alguns sendo roubada,
fiquei sozinho na estrada
como quem não espera nada,
um simples sobrevivente
e vou contar por que:
Sou um brasileiro sobrevivente,
porque sobrevivi a quatro governos do PT.

Cícero Alvernaz (autor)
10-04-2018.