domingo, 15 de fevereiro de 2015



PROCISSÃO DO ADEUS


Hora da partida, do último apito do velho chefe de estação. O esfumaçado derradeiro vagão se dilui no bruxuleante mormaço que flui das pedras e do aço dos trilhos.

Desaparece na curva férrea o comboio.

Lenços brancos abanando nas janelas dos vagões são engolidos pelo horizonte que desconhece os dramas, as tristezas e alegrias das vidas que leva embora, e das que ficam na plataforma...

Ficam muitas mulheres: jovens namoradas, noivas e mães não tão jovens, derramando lágrimas do gosto de um mar distante o qual nunca viram.

Vão-se embora como em “Procissão do Adeus”, carpem sentidamente por um sinônimo que se diz Partida.

Alguém não vai embora seguindo a "procissão". Já foi  moço, um belo rapaz cheio de sonhos a dividir. Hoje está velho, muito velho e cansado; mas continua esperando por aquela de mãos tão brancas, longos dedos, chapéu de flores, riso leve e um tanto tristonho, que parece há milênios lhe abanou seu lencinho branco em despedida... 


Único e primeiro amor de sua vida, que partiu e ele continua esperando sua volta... 
Ela partiu, mas ele é alheio aos que lhe dizem por compaixão: que ela se foi para a mais longa das viagens !

Na despedida final, em seu último badalar, o grande relógio da estação deixará de ser a metáfora para se transmudar na poderosa metonímia, que não pode fugir aos desígnios do Grande Relojoeiro, que o vai calar ... Uma hora, um dia... De uma vez!...


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