segunda-feira, 29 de setembro de 2014

APENAS UM OLHAR


Foi apenas um olhar. Em principio discreto, medroso, quase infantil. Um olhar que poderia ter sido facilmente esquecido, ignorado, apagado. Mas, assim como as luzes da cidade se acendem aos poucos, assim como as flores aos poucos se abrem e por fim embelezam o vale, esse olhar se multiplicou.

Foi numa tarde que poderia ter sido como as outras. Tarde de sol gostoso e um vento manso, suave e carinhoso. Tarde de crianças brincando no parque sob o olhar atento dos pais. Tarde de passarinhos felizes cantando tão livres! Tarde de sonhos por sobre a relva verdinha que recebe o carinho de mãos e de pés. Descrever tudo isso me seria impossível em face da beleza que a tudo impregnava.

Foi apenas um olhar. Um olhar diferente, não obstante tímido. Um olhar que falou alto e sorriu lindo na sua mais pura expressão. Como o rio que brinca com sua margem beijando as frágeis plantinhas que sorriem agradecidas, como o orvalho que pousa carinhosamente sobre a relva a cada manhã, como o sol que não se cansa de nascer e oferece a todos os seus raios dourados e quentes, o amor nasceu através de um simples olhar.

Foi mais, muito mais. Uma nuvem pequena que brinca no céu, o brilho da lua desafiando o escuro da noite, o verso que nasce livre e cresce no peito do poeta, a flor que não se ufana, apesar de seu perfume e de sua indescritível beleza, o riso franco, espontâneo e doce que forma um lindo poema, a palavra simples que se mostra tão pouco e tanto nos diz, o gesto silencioso e discreto que tem o condão de acalmar a guerra, o beijo puro que se traduz na melhor das terapias, o prazer de se sentir útil e produtivo... Um olhar, um simples olhar.

Foi apenas um olhar. Um olhar que aos poucos se transformou em sorriso, em palavras, em sonhos, em projetos e por fim culminou no que há de mais íntimo e sublime, mais lindo e mais encantador. Um olhar que, sem querer, e sem saber se transformou em amor.

Cícero Alvernaz (Membro da Academia Guaçuana de Letras)
Mogi Guaçu, 13 de maio de 2009.

2 comentários:

  1. Ficou bom. Muito lindo. Espero que todos gostem.

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  2. Gostamos sim, Cícero. Demais de sublime... Parabéns! Você nos levou a viajar, e, ao mesmo tempo permanecer ligado em suas palavras. Obrigada por nos proporcionar momentos de bela leitura.

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