HUMANISMO E TERRORISMO
- Réquiem a uma França global -
- Réquiem a uma França global -
- Publicado por Mauro Martins Santos em 14 novembro 2015 às 23:56 em Humanismo - http://peapaz.ninq.com/group/humanismo
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Mauro Martins Santos
Não o repouso do violino, enquanto a nota dura,
Não isso apenas, mas a coexistência,
Ou digamos que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio estiveram sempre ali
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora.
T.S. Eliot
A infindável súplica do campo de ossos secos ao seu “deus-morte” em penosa tortura na última Anunciação, traduzirá a longa jornada humana sobre a Terra.
Há sempre noções superficiais de evolução - quando se torna cada vez mais velho o ser que se diz homem... o passado vem lhe mostrar cada minuto mais claramente a involução. Nada vale um algo que se julga evoluir quando o centro, o magma, recrudesce ao resfriamento, a se tornar um campo gélido e eterno de morte .
A indignação original, como a toda causa um efeito - uma contrapartida é legitimada defesa - preservação dos direitos mais primários e de maior magnitude: a vida.
O passado em registros indeléveis mostra claramente a involução da sociedade humana.
A perda de valores atingiu o cerne dos indivíduos, a moral, os princípios que os regem e sua preservação. Os valores intrínsecos foram desintegrados no que hoje é a maioria. O valor à vida desceu aos mais ínfimos patamares. Deixa de ser desenvolvimento e escancara as fauces da imensa falácia humana, à medida que vê a necessidade de eliminar-se a outro, em nome de seu “deus interior”.
Então não há um passado a direcionar um futuro, não há a lógica sequencial do Tempo, ele passa a não existir, não mais contar. O tempo se auto-elimina, à medida que a vida é tempo e ela não conta mais. Não há quaisquer resquícios de evolução humana nessa esteira. O terror é a beira da escuridão do abismo.
A perda de valores atingiu o cerne dos indivíduos, a moral, os princípios que os regem e sua preservação. Os valores intrínsecos foram desintegrados no que hoje é a maioria. O valor à vida desceu aos mais ínfimos patamares. Deixa de ser desenvolvimento e escancara as fauces da imensa falácia humana, à medida que vê a necessidade de eliminar-se a outro, em nome de seu “deus interior”.
Então não há um passado a direcionar um futuro, não há a lógica sequencial do Tempo, ele passa a não existir, não mais contar. O tempo se auto-elimina, à medida que a vida é tempo e ela não conta mais. Não há quaisquer resquícios de evolução humana nessa esteira. O terror é a beira da escuridão do abismo.
Nesse estágio só obedece à voz que dita que se deve existir para matar o maior número possível dos que não pensam iguais a ele e seus pares e o fará sem perguntas ou raciocínio, vez que o tempo vital biológico inexiste e o presente ele desconhece a razão.
Não há um fluir à superfície por não haver superfície. É “a olhadela por cima dos ombros, ao terror primitivo lançada.” [T.S. Eliot]
A palavra Terrorismo [do fr.terrorisme], já não acomoda mais sua gênese francesa de atos de violência perpetrados por grupos políticos para combater o poder estabelecido [sendo que este último, pode também cometer a violência contra seu povo] - pela voragem em que se arrostam os turbilhões do Tempo, há que ser fixada nas genéricas, mas representativas palavras do léxico: barbárie, carnificina, morticínio, genocídio, execuções sumárias. Podem causar, e causam o terror, mas são mais que políticos, são ideológicos, das mais abstratas e absurdas fundamentações.
Segundo o presidente da República Francesa, François Hollande, este (em 13-novembro-2015) foi o maior e pior atentado já sofrido na história da França. O planeta quer queira quer não, agora terá neste fato um marco para estabelecer conceitos e direcionamentos de velhas questões ideológicas, e até étnicas, uma vez que a exemplo, os piores carrascos de todos os tempos, são ingleses descendentes étnicos, das periferias de Londres que se transformaram em degoladores puramente ideológicos, ao vivo pela TV.
As reportagens e entrevistas com as autoridades francesas, também indicaram na mesma direção, quanto a Paris e sudoeste francês.
Isso mexe com princípios antes sagrados para a França: La Fraternité, Liberté et Igualité - onde a causa étnica já produz citações como a de um cidadão francês que disse: “A França já não é mais dos franceses” - dada a miscigenação fora do país, vindos para dentro de suas fronteiras, dando origem às gerações muçulmanas irredutíveis nos hábitos e costumes do Islã; como na Suíça, onde os muçulmanos fundamentalistas estão exigindo a retirada da cruz que figura milenarmente (desde a Idade Média) na bandeira do país - embora vivendo abrigados e trazendo seus parentes para viver em seus cantões.
“Iluminisme”, berço “de L’Humanisme” e de “Le Droit de L’Homme” estão entrando em abalo, depois de duro pronunciamento de François Hollande : “ O combate ao terror na França será sem trégua, incansável, constante e eterno”.
Mais que um simples discurso é uma promessa e ameaça-recado. Isso causa apreensão, por ser uma ordem presidencial em resposta a atos presentes e concretos, que se alastrará e qualquer movimento suspeito. A coibição livre e vingativa é temerária ao tempo que se seguirá.
Os estrangeiros que lá estão a estudo ou já residentes, estão altamente receosos, por não ostentarem o fenótipo francês ou europeu, agravando-se não falarem o idioma local ou possuírem sotaque e "estarem errados na hora errada".
Este é o mundo humano, das criaturas que tem somente o céu sobre suas cabeças.
L'homme selon les humanistes
L'humanisme comme mouvement de pensée caractéristique de la Renaissance a défini une nouvelle image de l'homme où sont affirmées sa puissance créatrice, sa liberté de penser et d'agir. L'humanisme a fait émerger, par le fait même, une nouvelle vision du monde en redécouvrant les sources gréco-latines de notre civilisation, en critiquant les institutions et les traditions du Moyen Âge, en renouvelant nos modes de connaissances et nos savoirs.
Malgré les différentes conceptions de l'homme, du monde et de Dieu qui ont existé au Moyen Âge, il est possible de dégager un modèle général qui est propre à cette période : le théocentrisme. Les principes généraux de ce modèle sont les suivants :
1. Le Dieu créateur est à l'origine de toutes choses (la création);
2. Toute créature est une manifestation plus ou moins proche de la perfection divine et chaque être occupe dans la création une place immuable;
3. L'homme est au sommet de la hiérarchie des créatures et toutes les choses ont été créées pour lui, mais pour qu'il rende grâce à Dieu;
4. Dieu est le centre commun de toutes les créatures et tout ce qui existe a nécessairement Dieu comme fin;
5. Ce monde ordonné et hiérarchisé est stable et définitif.
Réquiem às vítimas de um mundo em declínio:
Leia mais sobre o futuro da França, como alvo de ódio dos fundamentalistas. - http://oglobo.globo.com/mundo/alvo-de-dois-ataques-em-um-ano-franca-vira-refem-do-terror-do-medo-18050789#ixzz3rVMN7TBj
Quatro Quartetos, The Dry Salvages:
T.S.Eliot
Tradução de Ivan Junqueira
Não sei muita coisa acerca de deuses; mas creio que o rio
É um poderoso deus castanho – taciturno, indômito e intratável,
Paciente até certo ponto, a princípio reconhecido como fronteira,
Útil, inconfidente, tal um caixeiro-viajante.
Depois, apenas um problema que ao construtor de pontes desafia.
Resolvido o problema, o deus castanho é quase esquecido
Pelos moradores das cidades – sempre, contudo implacável,
Fiel às suas iras e épocas de cheia, destruidor, recordando
O que os homens preferem esquecer. Desprezado, preterido
Pelos adoradores da máquina, mas esperando, espreitando e esperando.
Seu ritmo esteve presente no quarto das crianças,
Na álea de ailantos dos quintais de abril,
No aroma das uvas sobre a mesa de outono,
E no halo vespertino dos lampiões de inverno.
É um poderoso deus castanho – taciturno, indômito e intratável,
Paciente até certo ponto, a princípio reconhecido como fronteira,
Útil, inconfidente, tal um caixeiro-viajante.
Depois, apenas um problema que ao construtor de pontes desafia.
Resolvido o problema, o deus castanho é quase esquecido
Pelos moradores das cidades – sempre, contudo implacável,
Fiel às suas iras e épocas de cheia, destruidor, recordando
O que os homens preferem esquecer. Desprezado, preterido
Pelos adoradores da máquina, mas esperando, espreitando e esperando.
Seu ritmo esteve presente no quarto das crianças,
Na álea de ailantos dos quintais de abril,
No aroma das uvas sobre a mesa de outono,
E no halo vespertino dos lampiões de inverno.
O rio flui dentro de nós, o mar nos cerca por todos os lados;
O mar é também a orla da terra, o granito
Que ele penetra as praias onde arremessa
Indícios de uma criação pretérita e diversa:
A estrela-do-mar, o caranguejo, o espinhado de baleia;
Os abismos onde oferece à nossa curiosidade
As mais delicadas algas e anêmonas marinhas.
Cara ou coroa, ele joga nossos ossos, a rede rasgada,
O covo em pedaços, o remo estilhaçado
E os utensílios de estrangeiros mortos. O mar tem muitas vozes,
Muitos deuses e muitas vozes.
O sal está na rosa silvestre,
A névoa está nos pinheiros.
O uivo do mar,
O ganido do mar, são vozes distintas
Muita vez ouvidas juntas: o queixume do cordame,
A ameaça e o afago da vaga espedaçado sobre as águas,
O distante marulho nos dentes de granitos,
O plangente aviso do vizinho promontório
Tudo são vozes do mar, a boia sibilante
Que ronda os litorais domésticos, e a gaivota:
E sob a opressão da névoa silenciosa
O sino dobra
Medindo um tempo que não é nosso, tocado pela vagarosa
Pulsação da terra, um tempo
Mais antigo que o tempo dos cronômetros, e mais antigo
Que o tempo contado pelas aflitas e aborrecidas mulheres
Em vigília, calculando o futuro
Tentando esfiapar, desmanchar, deslindar
E o passado ao futuro cerzir num remendo inconsútil,
Entre a meia noite e a aurora, quando o passado é todo decepção
E o futuro ao futuro se recusa, antes que a manhã desperte,
Quando o tempo se detém e o tempo jamais se estingue.
E a pulsação da terra, desde o princípio em tudo viva,
Tange
O sino.
O mar é também a orla da terra, o granito
Que ele penetra as praias onde arremessa
Indícios de uma criação pretérita e diversa:
A estrela-do-mar, o caranguejo, o espinhado de baleia;
Os abismos onde oferece à nossa curiosidade
As mais delicadas algas e anêmonas marinhas.
Cara ou coroa, ele joga nossos ossos, a rede rasgada,
O covo em pedaços, o remo estilhaçado
E os utensílios de estrangeiros mortos. O mar tem muitas vozes,
Muitos deuses e muitas vozes.
O sal está na rosa silvestre,
A névoa está nos pinheiros.
O uivo do mar,
O ganido do mar, são vozes distintas
Muita vez ouvidas juntas: o queixume do cordame,
A ameaça e o afago da vaga espedaçado sobre as águas,
O distante marulho nos dentes de granitos,
O plangente aviso do vizinho promontório
Tudo são vozes do mar, a boia sibilante
Que ronda os litorais domésticos, e a gaivota:
E sob a opressão da névoa silenciosa
O sino dobra
Medindo um tempo que não é nosso, tocado pela vagarosa
Pulsação da terra, um tempo
Mais antigo que o tempo dos cronômetros, e mais antigo
Que o tempo contado pelas aflitas e aborrecidas mulheres
Em vigília, calculando o futuro
Tentando esfiapar, desmanchar, deslindar
E o passado ao futuro cerzir num remendo inconsútil,
Entre a meia noite e a aurora, quando o passado é todo decepção
E o futuro ao futuro se recusa, antes que a manhã desperte,
Quando o tempo se detém e o tempo jamais se estingue.
E a pulsação da terra, desde o princípio em tudo viva,
Tange
O sino.
II
Onde fim para isso tudo, para o surdo lamento,
Para o silente agonizar das flores outonais
Que as pétalas gotejam e imóveis permanecem;
Onde fim para o termo ponha ao torvelinho do naufrágio,
A súplica do osso nas areias, à insuplicável
Súplica para a calamitosa anunciação?
Para o silente agonizar das flores outonais
Que as pétalas gotejam e imóveis permanecem;
Onde fim para o termo ponha ao torvelinho do naufrágio,
A súplica do osso nas areias, à insuplicável
Súplica para a calamitosa anunciação?
Não há fim, mas adição: a repisada trilha
De tantas horas mais e mesmos sempre dias,
Enquanto o coração reclama os impassíveis
Momentos da existência, entre as ruínas
Do que se acreditou fosse o mais íntegro
– O mais capaz, portanto, de abnegação.
De tantas horas mais e mesmos sempre dias,
Enquanto o coração reclama os impassíveis
Momentos da existência, entre as ruínas
Do que se acreditou fosse o mais íntegro
– O mais capaz, portanto, de abnegação.
Há uma adição final: o malogrado orgulho
Ou o despeito ante poderes malogrados,
A fria devoção que poderá passar por indevota,
Num barco à deriva e a meio naufragar,
O tácito escutar do irrecusável clamor
Do sino que anuncia a última anunciação.
Ou o despeito ante poderes malogrados,
A fria devoção que poderá passar por indevota,
Num barco à deriva e a meio naufragar,
O tácito escutar do irrecusável clamor
Do sino que anuncia a última anunciação.
Como alcança-los, aos pescadores do mar a afora
Cauda do vento adentro, onde a bruma se enrodilha?
Não poderemos conceber um tempo inoceânico
Ou oceano algum não recamado de despojos
Ou futuro que não esteja, como o passado,
Sujeito a nunca possuir destinação.
Cauda do vento adentro, onde a bruma se enrodilha?
Não poderemos conceber um tempo inoceânico
Ou oceano algum não recamado de despojos
Ou futuro que não esteja, como o passado,
Sujeito a nunca possuir destinação.
Nós os conceberemos sempre baldeando as águas,
Traçando e orçando rumos quando sopra o Noroeste
Sobre os baixios que a erosão não desfigura
Ou cavando sua paga, secando ao cais o velame
– Não como vítimas de um périplo impagável
Por arrasto incapaz de resistir a uma inspeção.
Traçando e orçando rumos quando sopra o Noroeste
Sobre os baixios que a erosão não desfigura
Ou cavando sua paga, secando ao cais o velame
– Não como vítimas de um périplo impagável
Por arrasto incapaz de resistir a uma inspeção.
E fim não há que termo ponha a isso tudo, ao mudo
Lamento, à infindável agonia das flores agonizantes,
Ao movimento de dor que indolor e imóvel se consuma,
Aos descaminhos do mar e ao torvelinho do naufrágio,
À súplica do osso e seu Deus-Morte. Apenas a somente, penosamente suplicável
Súplica da única Anunciação.
Lamento, à infindável agonia das flores agonizantes,
Ao movimento de dor que indolor e imóvel se consuma,
Aos descaminhos do mar e ao torvelinho do naufrágio,
À súplica do osso e seu Deus-Morte. Apenas a somente, penosamente suplicável
Súplica da única Anunciação.
Parece, quando alguém se torna mais velho,
Que o passado assume outra forma, e deixa de ser uma simples sequência
– Ou mesmo um desenvolvimento: este, aliás, uma parcial falácia
Endossada por noções superficiais de evolução
Que se convertem, na mente do povo, em pretexto para renegar o passado.
Nos momentos e felicidade – não a sensação de bem-estar,
Fruição, plenitude, segurança ou afeto,
Ou mesmo a de um soberbo jantar, mas a súbita iluminação –
Vivemos a experiência mas perdemos o significado,
E a proximidade do significado restaura a experiência
Sob forma diversa, além de qualquer significado. Como já disse,
A experiência vivida e revivida no significado
Não é a experiência de uma vida apenas
Mas a de muitas gerações – não esquecendo
Algo que, provavelmente, será de todo inefável:
O olhar para além da certeza
Da História documentada, a olhadela
Por cima dos ombros, ao terror primitivo lançada.
Agora, chegamos a descobrir que os momentos de agonia
(Se eles são devidos à má compreensão,
Após esperar-se pelo equivoco ou por ele haver temido,
Não vem ao caso) são a rigor permanentes,
Tocados dessa permanência que trespassa o tempo. Apreciamos isto melhor
Na agonia dos outros – experimentada de perto,
E que a nós mesmos nos envolve – do que em nossa própria.
Pois em nosso próprio passado cruzam correntes de ação,
Mas o tormento dos outros perdura como experiência
Inqualificada, incorrompida por subsequente atrito.
As pessoas mudam, e sorriem, – mas a agonia permanece.
O tempo que destrói é o tempo que preserva.
Tal o rio com sua carga de negros mortos, vacas e gaiolas,
A maçã amarga e a marca da dentada.
E o rochedo apunhalado nas águas incansáveis,
As vagas o lavam, as brumas o agasalham;
Num dia alciônico, ele é apenas um monumento,
Em tempos à navegação propícios, sempre um marco
A indicar o rumo – mas na estação das sombras,
Ou em meio a repentina fúria, ele é o que sempre foi.
Que o passado assume outra forma, e deixa de ser uma simples sequência
– Ou mesmo um desenvolvimento: este, aliás, uma parcial falácia
Endossada por noções superficiais de evolução
Que se convertem, na mente do povo, em pretexto para renegar o passado.
Nos momentos e felicidade – não a sensação de bem-estar,
Fruição, plenitude, segurança ou afeto,
Ou mesmo a de um soberbo jantar, mas a súbita iluminação –
Vivemos a experiência mas perdemos o significado,
E a proximidade do significado restaura a experiência
Sob forma diversa, além de qualquer significado. Como já disse,
A experiência vivida e revivida no significado
Não é a experiência de uma vida apenas
Mas a de muitas gerações – não esquecendo
Algo que, provavelmente, será de todo inefável:
O olhar para além da certeza
Da História documentada, a olhadela
Por cima dos ombros, ao terror primitivo lançada.
Agora, chegamos a descobrir que os momentos de agonia
(Se eles são devidos à má compreensão,
Após esperar-se pelo equivoco ou por ele haver temido,
Não vem ao caso) são a rigor permanentes,
Tocados dessa permanência que trespassa o tempo. Apreciamos isto melhor
Na agonia dos outros – experimentada de perto,
E que a nós mesmos nos envolve – do que em nossa própria.
Pois em nosso próprio passado cruzam correntes de ação,
Mas o tormento dos outros perdura como experiência
Inqualificada, incorrompida por subsequente atrito.
As pessoas mudam, e sorriem, – mas a agonia permanece.
O tempo que destrói é o tempo que preserva.
Tal o rio com sua carga de negros mortos, vacas e gaiolas,
A maçã amarga e a marca da dentada.
E o rochedo apunhalado nas águas incansáveis,
As vagas o lavam, as brumas o agasalham;
Num dia alciônico, ele é apenas um monumento,
Em tempos à navegação propícios, sempre um marco
A indicar o rumo – mas na estação das sombras,
Ou em meio a repentina fúria, ele é o que sempre foi.
III
Às vezes me pergunto se isto é o que Krishina quis dizer
– Entre outras coisas – ou apenas um meio de dizer a mesma coisa:
Que o futuro é uma canção esmaecida, uma Rosa Real ou um borrifo de alfazema
De nostálgico pesar por aqueles ainda ausentes daqui para o pesar,
Esmagado entre as folhas amarelas de um livro jamais aberto.
E toda subida é uma descida, todo retorno uma partida.
Não o podes encarar face a face, mas isto é certo:
O tempo não cura, e aqui já não está mais o paciente.
Quando parte o trem, e os passageiros se acomodam,
Com frutas, revista e cartas comerciais
(E os que vieram despedir-se já deixaram a plataforma)
Suas faces relaxam da tensão para o alívio,
Ao sonolento ritmo de muitas horas.
Adiante, viajantes! Não escapareis ao passado
Por viverdes outras vidas, ou em qualquer outro futuro;
Não sois os mesmos que deixaram a estação
Ou que a nenhum final de linha alcançarão,
Enquanto os trilhos se tocam e atrás de vós deslizam;
E sobre o convés do álacre navio,
Velando o sulco de espumas que atrás de vós se esgarça,
Não podereis pensar “o passado passou”
Ou o “o futuro à nossa frente se entreabre”.
Ao anoitecer, nos cordames e antenas
Uma voz balbucia (não aos ouvidos, todavia,
Murmurante búzio do tempo, ou em qualquer linguagem viva)
“Adiante, vós que julgais estar de viagem;
Não sois aqueles que viram o porto se afastar
Ou que jamais um dia à terra tocarão.
Aqui, entre as praias de cá e de lá
Enquanto o tempo se retira, considerai o futuro
E o passado como um juízo equidistante.
Neste momento, que de inércia não é e nem de ação,
Podeis aceitar isto – ‘em que qualquer esfera do ser
A mente humana pode estar atenta
À hora da morte’ – esta é a única ação
(E a hora da morte preside cada instante)
Que haverá de frutificar na vida dos outros.
E não penseis no fruto da ação.
Adiante.
Ó viajantes, ó marinheiros
Vós que chegais ao porto, e vós cujos corpos
Do mar processo e julgamento sofrerão,
Do mar ou de outro tribunal, este é o vosso real destino”.
Assim Krishina, quando nos campos de batalha
Arjuna escarmentou.
Boa viagem, não
– Mas adiante, viajantes.
– Entre outras coisas – ou apenas um meio de dizer a mesma coisa:
Que o futuro é uma canção esmaecida, uma Rosa Real ou um borrifo de alfazema
De nostálgico pesar por aqueles ainda ausentes daqui para o pesar,
Esmagado entre as folhas amarelas de um livro jamais aberto.
E toda subida é uma descida, todo retorno uma partida.
Não o podes encarar face a face, mas isto é certo:
O tempo não cura, e aqui já não está mais o paciente.
Quando parte o trem, e os passageiros se acomodam,
Com frutas, revista e cartas comerciais
(E os que vieram despedir-se já deixaram a plataforma)
Suas faces relaxam da tensão para o alívio,
Ao sonolento ritmo de muitas horas.
Adiante, viajantes! Não escapareis ao passado
Por viverdes outras vidas, ou em qualquer outro futuro;
Não sois os mesmos que deixaram a estação
Ou que a nenhum final de linha alcançarão,
Enquanto os trilhos se tocam e atrás de vós deslizam;
E sobre o convés do álacre navio,
Velando o sulco de espumas que atrás de vós se esgarça,
Não podereis pensar “o passado passou”
Ou o “o futuro à nossa frente se entreabre”.
Ao anoitecer, nos cordames e antenas
Uma voz balbucia (não aos ouvidos, todavia,
Murmurante búzio do tempo, ou em qualquer linguagem viva)
“Adiante, vós que julgais estar de viagem;
Não sois aqueles que viram o porto se afastar
Ou que jamais um dia à terra tocarão.
Aqui, entre as praias de cá e de lá
Enquanto o tempo se retira, considerai o futuro
E o passado como um juízo equidistante.
Neste momento, que de inércia não é e nem de ação,
Podeis aceitar isto – ‘em que qualquer esfera do ser
A mente humana pode estar atenta
À hora da morte’ – esta é a única ação
(E a hora da morte preside cada instante)
Que haverá de frutificar na vida dos outros.
E não penseis no fruto da ação.
Adiante.
Ó viajantes, ó marinheiros
Vós que chegais ao porto, e vós cujos corpos
Do mar processo e julgamento sofrerão,
Do mar ou de outro tribunal, este é o vosso real destino”.
Assim Krishina, quando nos campos de batalha
Arjuna escarmentou.
Boa viagem, não
– Mas adiante, viajantes.
IV
Senhora, cujo santuário se alteia sobre o promontório,
Orais por aqueles que se fazem ao mar, por aqueles
Que do peixe seus sustento tiram, por aqueles
Que aos lícitos negócios se dedicam
E por aqueles que os conduzem.
Orais por aqueles que se fazem ao mar, por aqueles
Que do peixe seus sustento tiram, por aqueles
Que aos lícitos negócios se dedicam
E por aqueles que os conduzem.
Rezai outra oração pelas mulheres
Que assistiram seus filhos e maridos
Partirem para nunca mais voltar
Fligia del tuo fligio
Rainha do Céu.
Que assistiram seus filhos e maridos
Partirem para nunca mais voltar
Fligia del tuo fligio
Rainha do Céu.
Rezai também uma oração pelos que estavam nos navios,
E cujo périplo findou sobre as areias, entre os lábios do mar,
Ou na escura garganta que nunca os devolverá
Ou num abismo onde do mar jamais o som dos sinos ouvirão
Angelus perpétuo.
E cujo périplo findou sobre as areias, entre os lábios do mar,
Ou na escura garganta que nunca os devolverá
Ou num abismo onde do mar jamais o som dos sinos ouvirão
Angelus perpétuo.
V
Comunicar-se com Marte, conversar com espíritos,
Historiar a conduta do monstro marinho,
Traçar o horóscopo, aruspicar ou bisbilhotar o astral,
Observar anomalias grafológicas, evocar
Biografias pelas linhas da mão
Ou tragédias pelos dedos, lançar presságios
Através de sortilégios, ou folhas de chá, adivinhar o inevitável
Com cartas de baralho, embaralhar pentagramas
Ou ácidos barbitúricos, ou dissecar
A trôpega imagem dos terrores pré-conscientes
– Sondar o fundo, a tumba, ou os sonhos; tais coisas são apenas
Passatempos e drogas usuais, ou manchetes de imprensa:
E sempre o serão, sobretudo alguns deles,
Quando há nações em perigo e perplexidade
Seja nas costas da Ásia, seja na Edgware Road.
A curiosidade humana esquadrinha passado e futuro
E a tal dimensão se apega. Mas apreender
O ponto de interseção entre o atemporal
E o tempo, é tarefa para um santo
– Ou nem chega a ser tarefa, mas uma coisa dada
E tomada, na morte de uma vida vivida em amor,
Fervor, altruísmo e renúncia de si própria.
Para a maioria de nós, há somente o inesperado
Momento, o momento de dentro e fora do tempo,
O cesso de distração, perdido num dardo de luz solar,
O irrevelado tomilho selvagem, ou o relâmpago de inverno,
Ou a cascata, ou a música tão profundamente ouvida
Que aos ouvidos se furtou, mas vós sois a música
Enquanto a música perdura. Tudo isto não passa de hipótese e conjectura,
Hipótese e depois conjectura; o resto
É prece, observância às normas, disciplina, pensamento e ação.
A hipótese em parte conjecturada, o dom parcialmente compreendido, é Encarnação
Aqui se atualiza a impossível
União de esferas da existência,
Aqui passado e futuro estão
Conquistados e reconciliados,
Onde qualquer ação fosse,
De outro modo, movimento
Do que apenas é movido
Sem possuir matriz de movimento
– Guiado por demônios, *ctônicos
Poderes. E a justa ação será
Livrar-se do passado e do futuro.
Para a maioria de nós, este é o alvo
Que aqui jamais se alcançará;
Nós, que embatidos só somos
Porque em tentar perseveramos;
Nós, satisfeitos ao final
Se nosso regresso temporal nutrir
(Não muito longe do teixo)
A vida de uma terra em plenitude.
Historiar a conduta do monstro marinho,
Traçar o horóscopo, aruspicar ou bisbilhotar o astral,
Observar anomalias grafológicas, evocar
Biografias pelas linhas da mão
Ou tragédias pelos dedos, lançar presságios
Através de sortilégios, ou folhas de chá, adivinhar o inevitável
Com cartas de baralho, embaralhar pentagramas
Ou ácidos barbitúricos, ou dissecar
A trôpega imagem dos terrores pré-conscientes
– Sondar o fundo, a tumba, ou os sonhos; tais coisas são apenas
Passatempos e drogas usuais, ou manchetes de imprensa:
E sempre o serão, sobretudo alguns deles,
Quando há nações em perigo e perplexidade
Seja nas costas da Ásia, seja na Edgware Road.
A curiosidade humana esquadrinha passado e futuro
E a tal dimensão se apega. Mas apreender
O ponto de interseção entre o atemporal
E o tempo, é tarefa para um santo
– Ou nem chega a ser tarefa, mas uma coisa dada
E tomada, na morte de uma vida vivida em amor,
Fervor, altruísmo e renúncia de si própria.
Para a maioria de nós, há somente o inesperado
Momento, o momento de dentro e fora do tempo,
O cesso de distração, perdido num dardo de luz solar,
O irrevelado tomilho selvagem, ou o relâmpago de inverno,
Ou a cascata, ou a música tão profundamente ouvida
Que aos ouvidos se furtou, mas vós sois a música
Enquanto a música perdura. Tudo isto não passa de hipótese e conjectura,
Hipótese e depois conjectura; o resto
É prece, observância às normas, disciplina, pensamento e ação.
A hipótese em parte conjecturada, o dom parcialmente compreendido, é Encarnação
Aqui se atualiza a impossível
União de esferas da existência,
Aqui passado e futuro estão
Conquistados e reconciliados,
Onde qualquer ação fosse,
De outro modo, movimento
Do que apenas é movido
Sem possuir matriz de movimento
– Guiado por demônios, *ctônicos
Poderes. E a justa ação será
Livrar-se do passado e do futuro.
Para a maioria de nós, este é o alvo
Que aqui jamais se alcançará;
Nós, que embatidos só somos
Porque em tentar perseveramos;
Nós, satisfeitos ao final
Se nosso regresso temporal nutrir
(Não muito longe do teixo)
A vida de uma terra em plenitude.
* deuses do submundo (da mit. gr. Khthonios = da “terra”= khthon)
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