O VERDADEIRO NATAL
Eu quero a singeleza do Natal.
Quero ver o menino singelo e pequenino
deitado na manjedoura
sendo adorado pelos pastores,
olhado e amado por seu pais
e bafejado pelos animais.
Eu quero ver a estrela
que anunciou o nascimento do Menino
cruzando o céu, apontando pra Belém,
onde alguém tão importante
há poucos instantes
acabara de nascer.
Eu quero ver o brilho do Natal.
Seu lado lindo, doce e espiritual.
Eu quero ver José e Maria
tomados de grande alegria
festejando o acontecimento
que ali naquela noite se via.
Eu quero ouvir a música divina
que soou entoada pelos anjos
naquela noite especial.
Eu quero ter o prazer de ver,
de sentir e de viver
o verdadeiro Natal.
Cícero Alvernaz (autor) 21-12-2015.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
Biblioteca Fátima Fílon recebe doação de livros
A tarde do dia 12 de dezembro de 2015 foi marcante para a Acadêmica Fátima Fílon. A biblioteca que leva o seu nome recebeu dos Lobinhos do grupo de Escoteiros Locomotiva uma doação de livros. A entrega contou com os Lobinhos, Escoteiros e Chefes, além dos Acadêmicos Fátima Fílon e Paul Law. Veja algumas imagens do evento:
Chefe Erik dando instruções aos seus Lobinhos
Fátima Fílon explicando sobre a importância da leitura
Os livros arrecadados
Bravo, bravo, bravíssimo! Fica o registro.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
À espera de um milagre
Independente
da fé professada, é quase unânime entre as pessoas a crença nos milagres.
Quando vemos, por exemplo, filas imensas em frente a casas lotéricas em época
de Mega Sena acumulada, não há dúvida de que todas aquelas pessoas que estão
ali para apostar na sorte esperam por um milagre, independente da religião que
sigam ou mesmo não tendo nenhuma religião. Quando nós ou alguém de nossa
família está doente, quando estamos desempregados, com dívidas a pagar, quando
perdemos um amor, enfim, quando desejamos ou necessitamos de algo que parece
estar além de nossa capacidade, também esperamos por um milagre.
Não
sou uma pessoa cética, no entanto, mesmo tendo a fé como um valor essencial,
havemos de ter coerência e bom senso. Nós somos responsáveis por tudo o que nos
acontece. Alguém pode se contrapor a essa afirmação, dizendo, por exemplo, que
os moradores de Mariana, MG, não podem ser responsabilizados pela catástrofe
recentemente ocorrida, mas, de alguma forma, podem. As vítimas da catástrofe só
o foram porque escolheram morar num lugar de risco, ainda que não fosse um
risco aparente. Morar perto de uma barragem ou de um vulcão extinto ou no
mangue ou nas encostas de um morro sempre representará fatores de risco. Mesmo
que se fique lá por décadas sem nada acontecer, a possibilidade de uma
catástrofe existe e não pode ser descartada.
Eu
acredito em
milagres. Acredito completamente. Já presenciei milagres na
minha vida e na vida de outras pessoas, próximas ou distantes e a ocorrência de
milagres, de uma intervenção sobrenatural, além de nossa compreensão, para mim
é fato. A questão não é ser cético e racional a ponto de duvidar de qualquer
fenômeno que a lógica e a ciência não expliquem, mas sim não confundir milagre
com magia e o mundo celestial com um supermercado onde se pega o suplemento
(milagre) que se precisa na hora que se quer.
Um
dos principais atributos do ser humano é a sua liberdade, o seu livre arbítrio
e, se os milagres acontecessem corriqueiramente, admitiríamos uma intervenção
divina que feriria o princípio dessa liberdade e nos tiraria a responsabilidade
pelas consequências de nossas escolhas. Podemos considerar acordar todas as
manhãs, ver e ouvir como um
milagre, mas, não estou tratando aqui de algo dessa subjetividade, mas
sim dos milagres objetivos, concretos, como uma pessoa cega voltar a enxergar,
um paralítico começar a andar, alguém com um câncer em fase terminal curar-se.
Como
seres humanos limitados, seria pretensão tentar explicar as coisas espirituais,
fora de nosso alcance, mas, podemos, por análise e experimentação, tecer
algumas suposições e é o que eu tento fazer aqui. Para mim, a ocorrência de um
milagre está atrelada à fé. Sem fé não pode haver milagres. Mas, se assim
fosse, podem objetar, a Mega Sena acumulada teria milhões de ganhadores, porque
todos os que fazem as suas apostas têm fé que ficarão milionários. Ocorre que é
muito diferente desejar que alguma coisa aconteça e estar certo que ela
acontecerá e sensibilizar a outra esfera da vida a fim de a coisa, de fato,
venha a acontecer. Quem joga na loteria arrisca, quem tem fé não arrisca e nem
mesmo pede a Deus coisas tolas e absurdas.
Como
cristãos, na narração dos Evangelhos, podemos constatar a ocorrência de
diversos milagres. A multiplicação de cinco pães e dois peixes numa quantidade
que deu para alimentar mais de cinco mil homens é uma delas. Tão estonteante
que chega a parecer inverossímil. Mas, para fazer esse milagre, Jesus contou
com uma matéria prima, um elemento essencial, os pães e os peixinhos ofertados
pelos discípulos. Isso significa que a concretização de um milagre é uma
questão de parceria. Que é preciso haver um investimento, uma doação, uma
oferta de nossa parte e, quase sempre, essa oferta passa pelos nossos valores
morais e pela retidão de nossas intenções, isso talvez explique porque se
realizam tão poucos milagres, pois estamos sempre aptos, preparados e sedentos
para receber, mas, raramente nos dispomos ou nos sentimos em condições de dar.
E não tomem aqui esse dar por ofertar dinheiro, como muitas vertentes
religiosas vergonhosamente fazem supor, numa verdadeira venda de milagres e
bênçãos. O dar a que me refiro é algo muito mais profundo – e simples.
Esta
semana, na minha cidade, está ocorrendo uma atividade religiosa chamada Cerco
de Jericó, que consiste em sete dias de orações e súplicas, nos quais as
pessoas se comprometem a ouvir a vontade de Deus sobre suas vidas e cumpri-la, solicitando
as graças que necessitam, como aconteceu com Josué no episódio da queda das
muralhas de Jericó apenas pela força da oração, do toque de trombeta e da marcha dos fiéis em
torno daquela fortificação, algo que foge a qualquer lógica conhecida. Como
nossa paróquia ainda não possui uma igreja, o evento está ocorrendo em uma
escola, na qual foram improvisados um altar e um local para o sacrário. No
primeiro dia, havia uma multidão, centenas de pessoas cantando e orando
entusiasmadas. São celebradas duas missas por dia, uma às cinco da manhã e
outra às 19h30. Tenho assistido às duas. Na das 19h30 a frequência ainda é
grande, embora diminua um pouco a cada dia, num dia porque choveu, no outro
porque estava muito calor... Já na das cinco horas, desde o primeiro dia a
frequência é mínima, hoje não passava de vinte pessoas, incluindo o padre e os acólitos.
Isso mostra que é difícil nos comprometermos e darmos algo além do trivial.
Esperamos sempre grandes milagres, como ganhar na Mega Sena sozinhos, mas, não
queremos investir mais do que o valor mínimo da aposta, que coloca nossa chance
em uma em 50 milhões.
O
mais coerente seria ajustarmos a nossa vida, os nossos ganhos, gastos e
investimentos para formarmos um pé de meia ao longo da vida a fim de não
precisarmos chegar à meia-idade e ter de ficar longo tempo nas filas do milagre
da loteria e procedermos de forma sempre correta e justa, mantendo uma conduta
ilibada, sendo caridosos, solidários e bondosos, fazendo a nossa parte,
cuidando da saúde física, emocional e espiritual, para não precisarmos também
ficar nas longas filas à espera de um milagre, ainda mais com o investimento
tão mínimo que normalmente estamos dispostos a fazer em Deus, sem deixar nosso
conforto, nosso comodismo e tudo aquilo que aparentemente nos faz bem, embora,
no fundo saibamos o quanto nos faz mal.
Isa Oliveira
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
O TEMPO NÃO NOS ESPERA
Dezembro, final de ano, fala de passagem, de transição, de mudanças e de expectativas. A vida muda ou nós mudamos dentro da vida. E quem não muda estaciona, se apega, renega a vida e fica rodando em círculos qual folha caída tocada pelo vento. Mas a vida exige mudanças, decisões e às vezes tem pressa na sua forma de agir. Ninguém pode ficar paralisado sob pena de ficar atrofiado e por fim ser inutilizado. A vida exige ação, busca, motivação e ambição. Para muitos, final de ano pouco representa ou quase nada. Na verdade, parece ser assim mesmo, se levarmos em conta todo o contexto da vida com as suas atribuições. Mas as mudanças ocorrem e são necessárias e pungentes. Elas podem ser vistas no dia a dia, na vida das pessoas, no comércio, nas escolas e até nas igrejas. Não há como negar este fato. Quem não se adequar e não participar ficará de fora dos acontecimentos e perderá o bonde da vida e da história. É melhor se ater aos fatos, às ideias e aos ideais num crescendo, e sempre se envolvendo para não ficar para trás. É bom deixar certas situações de pouca relevância, certas conjeturas e abstrações e se enturmar no afã de viver a realidade que aí está, e não uma ficção dentro da realidade proposta. Dezembro apareceu e sorriu. Posso não ter achado nenhuma graça, mas ele é real. Ele nos convida a sair, dançar a sua música, beber do seu vinho e comer do seu prato. A vida nos dá as mãos e nos encaminha e nos ajuda na travessia. É bom nos atermos a tudo isto sob pena de ficarmos para trás e depois não conseguirmos embarcar no trem da vida, que, diga-se de passagem, já deu dois sonoros apitos. Eia! Vamos que o tempo não nos espera.
Cícero Alvernaz (autor) 15-12-2015.
Dezembro, final de ano, fala de passagem, de transição, de mudanças e de expectativas. A vida muda ou nós mudamos dentro da vida. E quem não muda estaciona, se apega, renega a vida e fica rodando em círculos qual folha caída tocada pelo vento. Mas a vida exige mudanças, decisões e às vezes tem pressa na sua forma de agir. Ninguém pode ficar paralisado sob pena de ficar atrofiado e por fim ser inutilizado. A vida exige ação, busca, motivação e ambição. Para muitos, final de ano pouco representa ou quase nada. Na verdade, parece ser assim mesmo, se levarmos em conta todo o contexto da vida com as suas atribuições. Mas as mudanças ocorrem e são necessárias e pungentes. Elas podem ser vistas no dia a dia, na vida das pessoas, no comércio, nas escolas e até nas igrejas. Não há como negar este fato. Quem não se adequar e não participar ficará de fora dos acontecimentos e perderá o bonde da vida e da história. É melhor se ater aos fatos, às ideias e aos ideais num crescendo, e sempre se envolvendo para não ficar para trás. É bom deixar certas situações de pouca relevância, certas conjeturas e abstrações e se enturmar no afã de viver a realidade que aí está, e não uma ficção dentro da realidade proposta. Dezembro apareceu e sorriu. Posso não ter achado nenhuma graça, mas ele é real. Ele nos convida a sair, dançar a sua música, beber do seu vinho e comer do seu prato. A vida nos dá as mãos e nos encaminha e nos ajuda na travessia. É bom nos atermos a tudo isto sob pena de ficarmos para trás e depois não conseguirmos embarcar no trem da vida, que, diga-se de passagem, já deu dois sonoros apitos. Eia! Vamos que o tempo não nos espera.
Cícero Alvernaz (autor) 15-12-2015.
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
É PRECISO AMAR O BRASIL
É preciso amar o Brasil,
mesmo que seja à nossa maneira.
É preciso cantar nosso hino
e hastear a nossa Bandeira.
mesmo que seja à nossa maneira.
É preciso cantar nosso hino
e hastear a nossa Bandeira.
É preciso conhecer o Brasil,
como se conhece um filho, um irmão,
É preciso respeitar o Brasil,
pois ele é a nossa Nação.
como se conhece um filho, um irmão,
É preciso respeitar o Brasil,
pois ele é a nossa Nação.
É preciso proteger o Brasil,
valorizar a nossa soberania.
Divulgar a nossa cultura,
ler e recitar a nossa poesia.
valorizar a nossa soberania.
Divulgar a nossa cultura,
ler e recitar a nossa poesia.
É preciso crer no Brasil,
disseminar os nossos valores.
Valorizar nossa música,
e estimular os cantores.
disseminar os nossos valores.
Valorizar nossa música,
e estimular os cantores.
É preciso respeitar o Brasil,
rechaçar qualquer tirania.
É preciso fomentar no Brasil
o exercício da Democracia.
rechaçar qualquer tirania.
É preciso fomentar no Brasil
o exercício da Democracia.
Cícero Alvernaz (autor), 07-12-2015.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
TÃO FORTE, TÃO FRÁGIL
TÃO FORTE, TÃO FRÁGIL
Isa Oliveira
Havia uma mulher que amava. Amava muito. Talvez a sua maior qualidade fosse o dom de
amar. Esmerava-se em cuidar dos seus, em realizar-lhes todos os gostos, todas
as vontades, todos os mínimos desejos, todos os sonhos – bem, esses demoravam
um pouco mais e davam um pouco mais de trabalho, mas, não raro, abria mão dos
seus próprios sonhos para realizar os dos seus próximos. “– Puxa, você também
tem sonhos? – Alguns. – Nossa!”.
Ela começou a perceber que algo não ia bem num dia em
que passou a tarde inteira cozinhando, se superando na preparação de pratos
deliciosos e bonitos, que agradariam o paladar de todos os que lhe eram caros.
Tudo ficou especial. Preparou a mesa com criatividade e carinho, para estar à
altura daquelas iguarias. Dispôs a louça e os talheres com cuidado e enfeitou o
centro da mesa com flores. Deixou as travessas sobre a pia e as panelas sobre o
fogão, para não esfriar a comida, e foi preparar-se para também estar à altura
de tão elaborado banquete.
Tomou um demorado banho, satisfeita consigo mesma,
imaginando a alegria deles quando vissem a mesa linda e experimentassem os
pratos tão saborosos. Até arriscou passar um creme na pele, maquiou-se, escolheu
um vestido bonito, ajeitou bem os cabelos, colocou até brincos e colar e,
quando desceu, para a sua surpresa e decepção, todos já tinham chegado e
jantado! Ignoraram as travessas bonitas e puseram as panelas na mesa, de
qualquer jeito, derrubando as flores do vasinho que ajeitara com tanto carinho.
Nas mesa, apenas sobras, panelas praticamente vazias,
copos, talheres e pratos sujos. Nem um comentário elogioso, nenhum
agradecimento, nem mesmo a mínima ajuda para recolher a louça suja. Colocou em
seu prato a carcaça do frango que sobrara, junto com a raspa de arroz do fundo
da panela. Sentiu-se a pior das criaturas e enojou-se com o perfume do creme
que exalava de sua pele. Não comeu. Chorou.
Este exemplo pode parecer exagerado, mas, não é. Há
teóricos que afirmam erradas as pessoas que doam e se ressentem por não receber
gratidão, reconhecimento, dizem que a doação deve ser um fim em si, uma atitude
desprendida e altruísta. Isso até pode ser assim para espíritos evoluídos em
algum outro plano de vida, talvez para os anjos, mas, conosco, seres humanos comuns,
não é assim que funciona. Tirando algumas exceções, normalmente não fazemos as
coisas de forma calculada, visando buscar reconhecimento, no entanto,
precisamos dele para nos alimentarmos. Um elogio sincero faz bem para a pele,
faz bem para a autoestima, faz bem para a alma e estimula novas boas ações.
Digam o que disserem, apregoem a utopia que
apregoarem, mas, na economia da vida, o reconhecimento é moeda fundamental. O
problema não é de quem precisa dele, mas de quem não o sabe dar. A ingratidão fere
mais que a lâmina de um punhal. São tantas pequenas coisinhas, aquela palavra
de gentileza, o telefonema não dado, a delicadeza não retribuída, um simples
obrigado pela gratuidade da dedicação alheia. Às vezes, uma pessoa move mundos
e fundos, muda sua rotina, sobrecarrega-se, abre mão de coisas importantes
apenas para proporcionar ao outro um prazer, uma alegria, para consolar, para
ajudar na solução de um problema e o outro age como se a pessoa não fizesse
mais que a obrigação. Às vezes, a pessoa deixa de comer para dar o alimento ao
outro e o outro ainda diz: “Só isso?”.
No caso de nossa amiga, que naquela noite foi dormir
com fome, no início, ela até ganhava um beijinho e o comentário de que estava
uma delícia, mas, com o tempo, o seu dedicar-se se tornou parte do óbvio, o que
deveria ser dádiva, tornou-se obrigação, o que deveria ser troca, tornou-se via
de mão única e, de provedora, passou rapidamente a serviçal e os únicos
comentários que ouvia eram queixas quando algo não saía totalmente do agrado
dos beneficiados.
Se alguém perdia alguma coisa, logo ela achava, conhecia
o lugar de tudo, pois se tornara parte de suas funções cuidar do desleixo alheio,
arrumar camas, pendurar toalhas molhadas esquecidas sobre o edredom, guardar os
objetos espalhados. “– Preciso disso. – Toma!”. “ – Não sei onde está. –
Aqui!”. – Estou com tanta vontade... – Satisfaça-se!”. Ah, se ela tivesse
percebido – e demonstrado – a tempo que
estava disponível, mas nem tão disponível assim...
Por longos anos, muito se empenhou em tudo fazer para
a alegria e satisfação dos que amava que, distraídos, achavam que uma pessoa
que amava tanto não precisava de amor. Tinha tanto para dar que parecia nunca
precisar receber. Mas, isso é um equívoco. Todos têm fome. Todos têm sede. Todos,
por mais eficientes que sejam, têm carências, têm necessidade de afagos, de
pequenos cuidados, de gentilezas, de gratidão, de reconhecimento. Todos
precisam do amor expresso e não apenas do amor subentendido. Até Jesus, um dia,
sentiu-se frágil e angustiado e pediu aos seus melhores amigos que o
acompanhassem e vigiassem com Ele, e eles dormiram...
Quando alguém dá muito, geralmente é porque tem um
grande reservatório, por isso, quase nunca pede nada e, quando pede, pede muito
pouco, coisas que até parecem insignificantes, mas que, para elas, significam
muito, porque ninguém, por mais auto-suficiente que pareça, basta-se a si
mesmo. Mas, assim como os discípulos de Jesus, nem mesmo esse pouco aqueles que
estão acostumados a fartar-se na sua abundância conseguem oferecer, isso quando
não reclamam e se sentem explorados por ter que dar em vez de apenas receber!
Essa mulher passou a sentir-se como uma ilha, cercada
de mar e de solidão por todos os lados, visitada apenas por extrativistas que
vinham colher seus cocos, suas bananas e outros nutrientes que produzia e
oferecia sem reservas. Tinha apenas o movimento das ondas para consolá-la.
Como sou uma artífice das palavras, especializada em
contar histórias, gostaria de dar a ela um final feliz, dizer que, finalmente,
ela rebelou-se, pegou todas as economias ou vendeu algum bem e foi em busca de
sua realização; que fez uma linda viagem e encontrou alguém que lhe devolvesse
o gosto e o encanto de beijar na boca, que notasse as suas curvas ainda
acentuadas, sempre ocultas atrás do avental da servidão; alguém que se
dispusesse a desvendar os segredos de seu corpo e encontrar o jeito certo de
lhe dar prazer, em lugar de apenas usufruir do prazer que ela proporcionava.
Poderia até dar-lhe um fim ameno e adequado à
modernidade dos nossos dias, dizendo que ela passou a fazer hidroginástica, tomar
anti-depressivos e Florais de Bach e teve uma vida tranquila e uma felicidade
mediana, vivendo bem, até perto dos 80 anos. Porém, sou, antes, uma observadora
– de mim mesma e da realidade que me cerca – e sinto em dizer que o fim de
nossa heroína foi outro. De tanto passar fome e se conformar com as sobras, com
o pior pedaço do frango, a fruta mais feia, o farelo do bolo, as raspas da
panela, essa maravilhosa mulher, tão forte, tão frágil, morreu, exausta, de
inanição, ainda na flor da vida. Foi tão essencial e sequer foi vista. Atente,
pode haver uma mulher assim perto de você ou talvez, você a seja...
Quanto tempo me resta
Quanto
tempo me resta?
Isa Oliveira
Quando eu era pequena e
acreditava que o Universo se resumisse às ruas de Monte Alto, às serras da Água
Limpa e do Barreiro e a Jaboticabal, lugar mais distante que eu conhecia, o meu
mundo, meu norte, meu amparo, minha referência era minha mãe, Dona Olívia, e
juntas costumávamos sonhar. Já nessa época, com meus seis, sete anos, minha mãe
começou a fazer o enxoval do meu casamento. Lençóis, panos de prato, toalhas de
banho e toalhinhas de crochê eram comprados e confeccionados com muito carinho,
indo para um cantinho do guarda-roupa. A minha irmã, que até hoje chamo de
Tata, onze anos mais velha que eu, já tinha o seu enxoval completo, guardado
numa mala que ficava no quarto de nossos pais.
Assim era porque o sonho
de minha mãe era o nosso casamento. Minha irmã já namorava sério, namorava “em
casa”, como se costumava dizer, portanto, já estava encaminhada. Eu era apenas
uma menina, mas minha mãe me fazia vislumbrar um horizonte tão lindo, tão
exuberante que ganhar um guardanapo com minhas iniciais bordadas e um delicado
biquinho de crochê me alegrava tanto ou mais do que ganhar um brinquedo. No
entanto, algo destoava dessa harmonia, pois a tão sonhada felicidade colada em
nossas esperanças pela delicadeza e persistência de minha mãe, não a
conhecíamos na prática. O meu pai era alcoólatra, jamais tratou a minha mãe ou
a qualquer dos filhos com carinho e respeito, nunca sentava para conversar
conosco e fazer as refeições em família era uma utopia que não víamos nem nas
novelas, porque não tínhamos televisão em casa.
Minha mãe era uma pessoa
maravilhosa, dedicada, prestativa, trabalhadora. Não achávamos que ela mentisse
para nós ou nos enganasse, mas, ela parecia vislumbrar algo que era interditado
aos nossos olhos porque, lá em casa, só o que presenciávamos eram brigas,
violência e lágrimas. Vivíamos sob o império do medo e a pior parte do dia era
o retorno do meu pai para casa, porque ele chegava bêbado quase todos os dias e
amostras grátis do inferno eram a nós oferecidas em doses cavalares. Bem, é
fácil deduzir que o casamento foi uma realidade que não fez parte da minha vida
e da vida da minha irmã. Não que não
desejássemos amar e não buscássemos ansiosamente por isso. E tão ansiosamente
buscávamos que tornamo-nos presas fáceis de aproveitadores que não nos deram o
ansiado lar que seria enfeitado com nosso primoroso enxoval, mas deixaram em
nós as suas marcas e ambas aprendemos a carregar o rótulo de mãe solteira.
Aprendemos, observando nossa mãe, que ter filho, ser mãe era a melhor coisa do
mundo, mas, o casamento com o qual sonhávamos junto dela era o pior martírio
que uma mulher poderia viver.
À medida que fui tirando
as peças de meu enxoval do maleiro do guarda-roupa, um pedaço de mim e dos meus
sonhos com ela partilhado foram se esvaindo e me entristecendo. Aquela
felicidade podia até existir em algum lugar, mas, certamente não estava reservada
para todos, não estava reservada para mim. Hoje os valores mudaram e o conceito
de família, paternidade e maternidade se banalizaram muito e ser mãe solteira
não causa grande estranhamento numa sociedade tão fragmentada e confusa, mas,
30, 40 anos atrás isso era bem mais complicado. Ter um filho solteira era
manchar a honra, era ficar falada e foi essa amarga realidade que eu e a minha
Tata experimentamos, embora nada em nossa vida tenha sido tão
extraordinariamente bom como nossos filhos.
Fiz ainda algumas
tentativas, mas, de tanto provar da realidade, nem sempre fácil, a tendência é
que deixemos de sonhar e nos amoldemos aos fatos. Mas, as sementes que minha
mãe plantou em meu coração eram muito resistentes e, embora o tempo tenha
passado, lá dentro de mim restou a ânsia secreta de um casamento bem sucedido,
um grande amor com final feliz. Na outra vida, quem sabe? Mas, e se não houver
outra vida? Só que minha mãe deve ter continuado insistindo em seus sonhos lá
do Céu para onde se mudou e, um dia minha solidão foi visitada por um certo
Henrique, curiosamente, o nome do primeiro amor de minha infância, um Henrique
que se matou aos 19 anos e cujo túmulo sempre visito quando vou a Monte Alto. E
esse Henrique de agora me mostrou que os sonhos da mãezinha não eram mero
devaneio, mas algo possível, limpo, correto e bom e amanhã, 31 de outubro, às
17 horas, ele estará me recebendo como sua legítima esposa aos pés de um altar,
numa cerimônia sui gêneris, pois o
padre celebrante será o meu querido filho, ao qual dediquei a minha vida.
O meu vestido de noiva é
lindo e várias pessoas estão se esmerando nos preparativos, sobretudo minha
irmã, que compreende o que significa vestir-se de noiva na minha idade. Estou
flutuando como uma menina e às vezes ainda me belisco para me certificar de que
estou acordada. Então me lembro que tenho 50 anos e que a duração de meu sonho
será limitada pela inclemência do envelhecimento. Quanto tempo me resta para
ser feliz? Essa é a pergunta que já me peguei fazendo algumas vezes, mas, a
resposta é que não importa quanto tempo, pois ser feliz é uma dádiva que não se
mede em duração, mas em intensidade e, mesmo que só me restasse um dia, teria
valido completamente a pena viver até aqui sem deixar que o sonho de quem mais
me amou morresse, porque, embora não tenha sobrado nada do meu enxoval, chegou
o meu tempo de ser feliz.
Fábrica de nuvens
FÁBRICA
DE NUVENS
Isa
Oliveira
Eu não tinha nenhuma ideia sobre Mogi Guaçu e nem mesmo a
diferenciava de Mogi Mirim ou de Mogi das Cruzes. Talvez até mesmo confundisse
a cidade com o rio. No entanto, quis o destino que meu coração de poeta fosse
seduzido por um habitante desse lugar, que não é um peixe, logo, não se trata
de um rio, mas de uma cidade, que passou a figurar na minha estreita geografia
e adquirir contornos de tons prateados.
Combinei com meu guaçuano amado uma viagem para a minha
terra natal, Monte Alto. Como viria de Atibaia, pela Dom Pedro, para facilitar
as coisas, nos encontraríamos em Campinas, na manhã de sexta-feira. No entanto,
a doce agonia da saudade me levou a antecipar minha ida em um dia e a
aventurar-me a encontrar a agora já interessante cidade com as parcas
instruções obtidas no Google, sem GPS ou estrelas-guia para me orientar.
Logo que fui me aproximando do sítio procurado, como é
comum aos apaixonados, as mãos foram gelando e as pernas bambeando, difícil
controlar os pés entre embreagem, freio e acelerador. Para distrair-me desse
estado de perturbação, resolvi passear meus olhos pela paisagem e, qual não foi
a minha surpresa, ao descobrir que é na região de Guaçu que são produzidas as
nuvens! De uma imensa chaminé, provavelmente a maior que já vi, saía uma nuvem
branquinha e muito fofa, recém produzida. A imagem extasiou-me. Cinco décadas
acreditando que nuvens são formadas pela condensação do vapor que sobe da terra
para, num repente, descobrir que existe uma fábrica delas! Tá, é certo que os
ecologistas e muitos moradores do lugar podem não concordar com meu ponto de
vista romântico sobre o denso material expelido pela grande chaminé, mas, serei
irredutível nesse ponto: é uma fábrica de nuvens e fim!
Entrando na cidade, que já me pareceu simpática desde a
um pouquinho esburacada via de acesso da entrada que escolhi (nem imaginei que
houvesse outras, entrei logo na primeira, como se fora a única que me levaria
aos braços do amado). Rapidamente dei conta de que as orientações do Google
Maps impressas numa folha A4 não me seriam de grande valia, pois placas com os
nomes das ruas que deveria seguir, não as vi logo de cara. Parei então numa
loja de material de construção, tentei controlar a tremedeira das pernas,
entrei e perguntei pela localização da Rua Bauru. “Ih, moça, tá do
ouuuuuuuuuuuuuuuutro lado”.
Pelo
encompridar do “outro”, supus que a rua estivesse mais perto de Atibaia do que
do ponto de Guaçu em que me encontrava. O rapaz do depósito foi extremamente
gentil, saiu de detrás do balcão, foi comigo até o carro e me deu instruções
precisas, cuja metade esqueci alguns quarteirões depois, mas, guardei uma
referência: o Bar do Congada.
Consegui
chegar até próximo da rodoviária e lá parei numa esquina para me informar. Um pedreiro
desceu do andaime e veio em meu socorro, rosto suado e mãos sujas de massa.
Pensou, pensou, traçou rotas a meia voz, falando consigo mesmo e dizendo: “Não,
por aí é muito difícil, ela vai se perder, péra aí... Não, por ali também
não...”. Atrás de mim havia um caminhãozinho parado e o motorista falava com
outro homem. Sugeri ao pedreiro perguntar ao motorista e ele me explicou que
não ia adiantar, porque ele também estava perdido.
Eu
já estava apaixonada por Guaçu pelo simples fato de ela abrigar aquele que amo,
mas, a atitude daquele homem simples nocauteou-me como um golpe de direita do
punho do Anderson Silva em suas melhores lutas. Ele me pediu para esperar,
entrou na obra e reapareceu com uma chave e um capacete na mão. Subiu numa moto
e me pediu para segui-lo, tendo a delicadeza de ir devagar e parar para me
esperar sempre que outro veículo de interpunha entre nós. Levou-me até o Bar do
Congada, a poucos quarteirões do meu destino final. Desci do carro num impulso,
agarrei a mão do pedreiro e a beijei demoradamente, sentindo em meus lábios o
gosto acre de cimento e cal.
Com
esse gesto tão humano, tão solidário, de uma pessoa que deixou seu trabalho
para guiar uma desconhecida, Guaçu me conquistou para sempre. Logo mais eu
seria recebida pela reação feliz do meu amado à surpresa, pelo carinho de seus
pais, agora meus também; mais tarde por seus irmãos e tios e, com requintes de
atenção e doçura, por seus colegas de trabalho no SENAC, mas, o impacto mesmo
foi causado pelo atencioso construtor. Só não entendi como ele trabalha
levantando paredes em vez de manobrando a chaminé e os fornos da magnífica
fábrica de nuvens, posto que é um anjo.
Não
me julgo cidadã do mundo, e sou até muito provinciana, mas, de agora em diante
tenho três naturalidades: Monte Alto por nascimento, Atibaia por escolha e Mogi
Guaçu por amor!
Isa
Oliveira é escritora, mora em Mogi guaçu e é casada com o escritor Henrique
Campos, 1º Secretário da Academia Guaçuana de Letras.
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
SEI LÁ
Sei lá
Bom, não sei
Talvez sim
Talvez não
Quem sabe?
Eu gostaria que fosse assim
Mas pode não ser
E agora?
O que eu faço?
É...
Hum...
Será que vai rolar?
Pode ser que sim
Pode ser que não
Melhor esperar...
Espere um pouco!
Esperar demora muito!
Fazer o quê, né?
Esperei nove meses para nascer
Não custa esperar mais um tempo.
Luís Braga (Membro da Academia Guaçuana de Letras)
Postagem originalmente postada no blog do autor.
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