sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Espaços imaginários

Henrique Campos

Falaram-me os homens em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.
Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si.
Cada um separado do outro por um espaço sem homens.
Alberto Caeiro, in “Fragmentos de Fernando Pessoa”.

Nós seres humanos – Homo sapiens neanderthalensis – possuímos inúmeras capacidades cognitivas que nos diferenciam dos animais irracionais, muito embora, algumas espécies de “homens”, agem de maneira que os destoam da raça.
No mundo que vivemos hoje, transformado continuamente pelas indelicadezas cometidas pelo próprio homem, torna-se difícil a convivência pacífica. Rumores e, por vezes, constatações de guerras; atentados, ferem e dilaceram as espécies todas viventes aqui.
Como modificar estas ações? Como compreender que nada aqui nos pertence e que é passageira essa nossa condição?
Viver harmoniosamente com a natureza, não a vilipendiando tornaria mais agradável nossa estada.
Quando era menino, no tempo do colégio, na hora do intervalo das aulas, íamos em pares até o pátio e, todos juntos, escolhíamos o que fazer com aqueles trinta minutos que tínhamos de pausa nas tarefas da sala de aula. Meus colegas e eu, muitas vezes após degustarmos saborosa merenda, dirigíamos para a quadra – que naquele tempo ainda não possuía concreto – lá fazíamos brincar com toda sorte de brincadeiras típicas e apropriadas para aquele momento: pular corda, queimada com bola de meia, pega-pega. Eu me detinha com um passatempo predileto – desenhar no chão de terra batida. Neste mundo sob meus pés, criava personagens que chamavam atenção, deixando a quadra aglomerada de curiosos para ver o que nasceria daquelas ágeis mãos a conduzir uma vareta fina transformada em pincel dos sonhos.
Construía castelos. Reis e rainhas em soberania nos reinos encantados por mim rabiscados no chão transformado em caderno. Neste momento raro eu era senhor de minhas ações. Tinha os pensamentos marejados de sentimentos, colocava no chão todo o repertório imaginário que retirava de minhas incursões pelos livros – um mundo mágico onde viajar se fazia necessário.
Inserido neste mundo, busco desenhar hoje, mesmo adulto, nos espaços imaginários deste meu chão do presente. Nele reencontro a imaginação que procuro absorver para minha vida. Ética, generosidade e gentileza são requisitos básicos para a convivência tão pacifica e sonhada pelos justos e, esta justeza deve ser seguida, anelada a todo momento.
O que normalmente se dissemina por aí é o politicamente incorreto. Que tenhamos o discernimento de separar o joio do trigo. Furar fila, sonegar impostos e todas as adversas ações para o positivo – não pode ser apoderado como líquido e certo. Ser reto de caráter, transformará o mundo e os homens. O contrário não deve ser parâmetro, mesmo que custe palavras, mesmo que custe sonhos.   

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