Espaços
imaginários
Henrique Campos
Falaram-me os homens em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi
humanidade.
Vi vários homens assombrosamente
diferentes entre si.
Cada um separado do outro por um
espaço sem homens.
Alberto Caeiro, in “Fragmentos de
Fernando Pessoa”.
Nós
seres humanos – Homo sapiens neanderthalensis – possuímos inúmeras capacidades cognitivas que nos diferenciam dos
animais irracionais, muito embora, algumas espécies de “homens”, agem de
maneira que os destoam da raça.
No mundo que vivemos
hoje, transformado continuamente pelas indelicadezas cometidas pelo próprio
homem, torna-se difícil a convivência pacífica. Rumores e, por vezes,
constatações de guerras; atentados, ferem e dilaceram as espécies todas
viventes aqui.
Como modificar estas
ações? Como compreender que nada aqui nos pertence e que é passageira essa
nossa condição?
Viver
harmoniosamente com a natureza, não a vilipendiando tornaria mais agradável
nossa estada.
Quando era menino,
no tempo do colégio, na hora do intervalo das aulas, íamos em pares até o pátio
e, todos juntos, escolhíamos o que fazer com aqueles trinta minutos que
tínhamos de pausa nas tarefas da sala de aula. Meus colegas e eu, muitas vezes
após degustarmos saborosa merenda, dirigíamos para a quadra – que naquele tempo
ainda não possuía concreto – lá fazíamos brincar com toda sorte de brincadeiras
típicas e apropriadas para aquele momento: pular corda, queimada com bola de
meia, pega-pega. Eu me detinha com um passatempo predileto – desenhar no chão
de terra batida. Neste mundo sob meus pés, criava personagens que chamavam
atenção, deixando a quadra aglomerada de curiosos para ver o que nasceria
daquelas ágeis mãos a conduzir uma vareta fina transformada em pincel dos
sonhos.
Construía castelos.
Reis e rainhas em soberania nos reinos encantados por mim rabiscados no chão
transformado em caderno. Neste momento raro eu era senhor de minhas ações.
Tinha os pensamentos marejados de sentimentos, colocava no chão todo o
repertório imaginário que retirava de minhas incursões pelos livros – um mundo
mágico onde viajar se fazia necessário.
Inserido neste
mundo, busco desenhar hoje, mesmo adulto, nos espaços imaginários deste meu
chão do presente. Nele reencontro a imaginação que procuro absorver para minha
vida. Ética, generosidade e gentileza são requisitos básicos para a convivência
tão pacifica e sonhada pelos justos e, esta justeza deve ser seguida, anelada a
todo momento.
O que normalmente
se dissemina por aí é o politicamente incorreto. Que tenhamos o discernimento
de separar o joio do trigo. Furar fila, sonegar impostos e todas as adversas
ações para o positivo – não pode ser apoderado como líquido e certo. Ser reto
de caráter, transformará o mundo e os homens. O contrário não deve ser parâmetro,
mesmo que custe palavras, mesmo que custe sonhos.
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