PROCURA-SE
UM GRANDE AMOR
Isa
Oliveira
Procura-se um amor que
busque repouso e traga aconchego. Que tenha braços fortes para sustentar uma
mulher forte, mas que tenha mãos delicadas para acariciar uma mulher suave. Que
traga nas faces sulcos feitos pelo tempo e que tenha a gentileza de tirar para
dançar uma sorridente menina vestida com a roupagem de uma mulher de meia
idade.
Procura-se um amor que,
ainda que não faça tudo o que ame, ame tudo o que faz e seja satisfeito consigo
mesmo, com sua profissão, seus afazeres, sua vida e, em não estando satisfeito,
que esteja verdadeiramente disposto a mudar e aventurar-se num novo recomeço.
Procura-se um amor que
tenha disponibilidade para estar presente nos momentos importantes, que tenha o
desejo sincero de compartilhar, mas que preze a sua individualidade e respeite
a minha; que saiba caminhar junto, mas com espaços entre os dois, a fim de não
sufocarmo-nos.
É
imprescindível que acredite em Deus acima de qualquer outra coisa. Que não
tenha uma fé vaga e utópica, uma religiosidade de conveniência e nem o
farisaísmo a arrogância doutrinária. É bastante adequado que partilhe a mesma
crença que eu, pois, conquanto respeite a diversidade religiosa, já vivi o
bastante para compreender que uniões em jugo desigual são muito desgastantes,
portanto, que seja católico, e católico praticante, não apenas de fachada. Se
for membro ou simpatizante da Renovação Carismática, ainda melhor, pois assim
falaremos as mesmas línguas: a dos homens e a dos anjos.
É fundamental que seja
livre, disponível e aberto para viver um grande amor, que não viva à busca de
aventuras fugazes, mas que tenha maturidade para aventurar-se nos intrigantes
caminhos de um amor maduro, pautado na lealdade e na fidelidade. E, quando digo
livre, é bom falar com toda a clareza: que não seja casado, namorado, amante,
enrolado em qualquer tipo de relacionamento mal resolvido. E que queira e possa
casar-se na Igreja. Que tenha equilíbrio para viver um namoro casto que pode
não passar de namoro, mas que se disponha a ser bem mais que isso.
Que tenha bons amigos,
abertos a aceitarem a minha companhia, e um coração com espaço bastante para
acolher os meus amigos. Que seja disposto à soma, à multiplicação, à ampliação
e não à divisão, a diminuição, à redução, ao apequenamento.
Pode ter um pouquinho de
ciúmes, mas, só um pouquinho, para temperar a confiança mútua. Que traga
feridas, mas já cicatrizadas ou em processo efetivo de cura, e que saiba
respeitar as marcas que em mim foram deixadas pela vida, sem querer mudá-las.
Ah, é fundamental que
seja alegre, bem humorado, que ame a vida e veja uma imensidão de
possibilidades em cada amanhecer. Que tenha o dom de me fazer rir e que se
divirta com as minhas piadas. Pode até roncar um pouquinho, mas que sempre
tenha nos lábios um “Bom dia, querida!” e que jamais adormeça de cara feia, sem
um “Boa noite, princesa!”. Que traga encanto, aconchego e carinho às minhas
noites, que as prolongue até as madrugadas, e que se disponha a deixar-se ser
completamente amado e saciado por minhas carícias. Que adormeça sereno, me aquecendo
com o calor do seu corpo e que não ria por eu sempre dormir de meias. É, pode
roncar um pouquinho.
Não precisa ser um padrão
de beleza, mas que não seja desleixado, que se aprecie, que valorize seus
pontos fortes e conviva bem com os pontos fracos; que se saiba único, que cuide
de sua saúde, use perfumes gostosos, tenha sempre o desejo de estar bonito para
deleitar meus olhos. Que não espere de mim esplendores de fruta verde, mas que
se disponha a degustar com calma o meu sabor de fruta madura. E que jamais
insinue que silicone cairia bem em alguma parte do meu corpo, sou absolutamente
natural e em paz com o vigor de meus 50 anos. E que seja alto, pois tenho 1,75m
e gosto de usar salto!
Que seja presente, pois
já reencontrei amores de outrora e, conquanto isso seja encantador e
nostálgico, ainda que minha alma deseje, meus pés não podem percorrer o terreno
do passado; apenas a estrada do hoje me pertence e me conduz aos encantos de um
futuro sonhado. Que se dê no tempo do hoje o nosso encontro – e que seja breve.
Ah, nem preciso falar que
é condição “sine qua non” que goste de ler (rs), ainda que não escreva. Que
aprenda a viajar nos meus textos, que me incentive nos meus voos literários e
tenha sabedoria para respeitar a minha necessidade de solidão quando estou
compondo.
Também não espero que
seja rico, mas que tenha uma economia equilibrada. Que não seja sovina e nem
perdulário. Que não dê ao dinheiro nem mais e nem mesmo importância do que ele
deve ter para uma vida sem desnecessários percalços. Que saiba, com muita
clareza, dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Se tal encantador amante
morasse em minha cidade, seria algo como tirar a sorte grande, comprar o
bilhete premiado, mas, não importa de onde seja, é importante que se disponha a
mudar-se para as montanhas de minha Atibaia, pois não tenho planos de deixar
meu recanto, que venho construindo há anos para recebê-lo e abrigá-lo, um lugar
de sonhos.
Ah, seria interessante
que tivesse um carro com tração nas quatro rodas, porque chegar aqui é algo
meio próximo do rali Paris/Dakar. É para pessoas que prezem mais o caminho do
que o meio de transporte. É tipo assim Fusca, Jipe, Rural... Mas, isso é só um
detalhe, eu tenho um excelente mecânico e já sou praticamente cliente vip da
oficina de alinhamento, balanceamento, troca de suspensão e amortecedores.
Portanto, aqueles moços simpáticos que têm verdadeiros casos de amor com seus
carros luxuosos, infelizmente terão de ser descartados...
Que tenha cultura e
conhecimentos diversificados, porém, mais que isso, que possua sabedoria. Que
conheça uma porção de coisas e goste de conversar sobre elas, que goste de
ensinar o que sabe e aprender coisas novas. Que não seja do tipo arrogante, que
preze muito ter razão em tudo; que, assim como eu, conquanto um pouquinho
teimosa de vez em quando, já tenha aprendido a escolher ser feliz em vez de ter
sempre razão. Que não seja excessivamente problemático, mas, que tenha
suficientes imperfeições para não ser um chato!
Precisa ser apaixonado
por cachorros, pois vivo cercada deles e ainda me relaciono com alguns
dispersos pela vizinhança. Que não ria de mim por eu não saber andar de
bicicleta, mas, que esteja disposto a ensinar-me. Que nunca diga que eu dirijo
mal, mesmo quando eu dirigir mal (não existe coisa mais irritante que homem que
critica uma mulher ao volante!).
Adianto que cozinho bem,
que tenho uma relação meio alquímica com o ato de cozinhar, mas apreciaria
imensamente que meu futuro amor também o fizesse, que cozinhasse para mim, que
cozinhássemos juntos, que nos auxiliássemos nessa arte e, sobre aquela parte de
lavar a louça... bem, é claro que um homem especial como esse que caminha ao
meu encontro amará lavar, secar e guardar a louça e, claro, limpar o fogão de
vez em quando!
O que mais posso esperar
desse amor sonhado? Que seja carinhoso, que goste muito de beijar na boca,
fazer coisas bobas como andar na chuva, namorar na varanda em noites de lua
cheia, ficar de bobeira na rede, jogando conversa fora, andar abraçado ou de
mãos dadas, abrir a porta do carro, carregar as compras. Que tenha
disponibilidade para cuidar e abertura para ser cuidado.
Que goste de levantar
cedo e que se deleite com o pôr-do-sol, do tipo que para o carro na estrada
para apreciar esse momento mágico. Que se extasie com o arco-íris. Que ria
muito e me faça rir muito, e nunca me peça para não chorar e muito menos que
não tenha coragem de chorar.
Que não seja muito dado à
bebida, apenas um vinho de vez em quando, eventualmente uma cervejinha. Que
tenha aversão ao cigarro e, preferivelmente, não seja fanático por futebol, do
tipo que assiste 47 reprises do mesmo jogo num único domingo...
Que jamais grite comigo e
nunca admita que eu grite consigo; que converse sempre olhando nos olhos. Que
me permita descalçar-lhe os sapatos e massagear seus pés e que também se
disponha a fazer isso com os meus. Que não se sinta ameaçado com a minha
independência e nem me fira com a sua. Que tenha a força de admitir-se fraco e
a coragem de se reconhecer aprendiz. Que ame a viagem mais do que o destino e o
repouso mais do que a agitação inútil. Que seja romântico, mas sem ser
pegajoso. Que opte pelo silêncio em vez
dos lugares comuns e frases feitas, como dizer a uma pessoa deprimida para ter
força de vontade.
Que tenha noção de suas
imperfeições e defeitos, mas que tenha a ousadia de superar-se. Que tenha amor
à disciplina, que seja caridoso e tenha interesse real pelas pessoas. Seria bom
que tivesse filhos, pois é sublime ser agraciado com essa bênção, mas, que,
tendo-os ou não, ainda considere a possibilidade de ter outros, pelas vias
naturais, contando com os avanços da medicina, ou pelas vias da misericórdia,
diante de tantas crianças sem lar e abandonadas. Que queira de fato construir
uma família.
Que queira envelhecer
junto e voltar a ser criança de mãos dadas. Que aprecie o avanço tecnológico,
mas não se escravize a isso e ainda se disponha a escrever longas cartas de
amor ridículas e açucaradas e que sempre me dê flores, ainda que roubadas.
Enfim, que tenha amor
bastante para preencher-me, mas que também tenha suficiente espaço vazio para
receber a dádiva do amor que me vai na alma e que está para ele reservado,
maturando-se e adquirindo novos sabores a cada dia, como vinho antigo. Não
importa que tenha pés cansados desde que tenha suficiente fé para acreditar que
encontrará em mim o conforto de um sapato laceado, o número exato para pés
machucados.
Bem, se você for este
homem que procuro e que espero também esteja à minha procura, não perca mais
tempo, caminhe rumo à construção da nossa felicidade. Se você não for este
homem, mas conhecer um que se pareça com ele, dê-lhe meu endereço, conte-lhe
que estou à sua espera, sem desespero, sem angústia, com calma e serenidade,
mas, que já não tenho 18 anos e o tempo não deixa de caminhar apenas para
retardar nosso encontro. O tempo é agora. Venha! Estarei tomando um chá de
erva-doce com pétalas de rosa, sentada na cadeira de balanço da varanda,
enquanto você caminha na minha direção. Mas, não se demore por demais, não
pretendo perder o viço do que resta da juventude com a qual desejo
presenteá-lo.
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